Vivemos em uma sociedade que impulsiona e testemunha uma vasta quantidade de mudanças que, em grande medida, são estimuladas e facilitadas pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs). Estas tecnologias, desde suas origens, geraram muitas expectativas, dado que sua incidência na transformação digital de nossa sociedade foi determinante; basta lembrar das revoluções industriais, um marco histórico de desenvolvimento tecnológico, especialmente a terceira delas, que viu surgir o computador como sinônimo de automatização de processos.
Nos últimos anos, testemunhamos a chegada de novas tecnologias e a convergência entre elas: a inteligência artificial, o Big Data e a ciência de dados, que nos permitem aproveitar o grande volume de informações, com tempos de resposta inimagináveis há alguns anos; a Internet das Coisas, que mostra maneiras úteis de interagir com objetos; os excelentes recursos de cálculo que obtemos com a supercomputação, bem como as redes avançadas que, quando combinadas, abrem novas possibilidades, novos universos. Todas essas inovações foram convertidas em tecnologia que permite a tão comentada quarta revolução industrial.
Sem dúvida, estamos mudando. Este que lhes escreve não imaginava ver a tranquilidade com que os bebês viajam de avião ao interagir com um dispositivo móvel e até a raiva quando o acesso à Internet é desativado; ou a alegria de alunos que, com seus telefones e aplicativos, diminuem a carga nas mochilas. No entanto, mudanças ainda maiores vêm, e com elas, responsabilidades e atenção redobradas.
Recentemente, também foi anunciada a combinação que promete uma melhor e mais rápida chegada ao futuro: a “transformação digital”, promessa a ser integrada nas agendas nacionais, é claro, com o objetivo de transformar a maioria das empresas. O objetivo é não apenas incorporar tecnologias, mas gerar uma profunda mudança nas organizações por meio delas, concentrando-se nas necessidades dos usuários e/ou clientes de maneira mais efetiva e eficiente.
As universidades, instituições essenciais para o desenvolvimento e progresso da humanidade, não estiveram alheias a estas mudanças e nem à busca de caminhos para se beneficiar das tecnologias. No entanto, o apelo é por uma transformação, e não um mero acompanhamento desses desenvolvimentos. Nesse sentido, as universidades estão tentando incorporar alguns aspectos em suas agendas em favor da relevância não apenas de sua oferta educacional, mas também da adequação às novas necessidades de sua comunidade universitária, que faz pressão para fazer a transição para o mundo digital, onde opera com sucesso há vários anos.
Mesmo com esses esforços, a transformação ou digitalização ainda não se concretizou. Algumas universidades têm progredido mais do que outras; tudo passa pela visão e pelas prioridades das agendas de cada uma delas. Que o mundo esteja enfrentando uma das emergências sanitárias mais impactantes da história e a necessidade de conter a propagação do Coronavírus, evitando a interrupção completa das atividades rotineiras de nossas sociedades, tem gerado mudanças profundas em nossas dinâmicas, com tempos de dispersão e adoção de mudanças bem menores dos que os ocorridos nas revoluções anteriores.
Hoje, observamos um mundo em que os avós que até pouco tempo eram totalmente alheios à tecnologia se comunicam com seus filhos e netos por meio de vídeochamadas; as igrejas estão transmitindo cultos online; as empresas por fim assumiram o tão comentado “home office como forma de trabalho; e, sobretudo, estamos presenciando nas instituições de ensino um dos maiores desafios já enfrentados: levar nossas aulas para o ambiente virtual de maneira qualificada. Ainda que possamos ver significativos esforços de reação, ainda há muitas tarefas pendentes a serem redefinidas em curto prazo. Mesmo assim, a atividade de transformação já começou.
Estamos experimentando uma aceleração em direção aos objetivos perseguidos pelas agendas de transformação digital, que os especialistas previram com a quarta revolução industrial, causada por uma pandemia que nos expulsou de nosso “voo de cruzeiro”. No entanto, não estamos descendo sem condições. As TICs, de natureza transformadora, juntamente com uma visão adequada das universidades, contribuirão para a elaboração de um plano, não para aterrissar, mas para "voar". Precisamos de uma rota digital estrategicamente estabelecida para modelar uma nova universidade, uma universidade inteligente.
Luis Alberto Gutiérrez Díaz De León, Presidente da CUDI e professor pesquisador da Universidade de Guadalajara, México